domingo, 26 de julho de 2009

Capítulo 9 – A selva dos H-holets.

Capítulo 9 – A selva dos H-holets.

Dizendo estas palavras disparou-se da lanterna um largo feixe de luz branca de dentro da lanterna, direcionado para a parede, deslocando um imenso bloco de granito, e este caiu pelo outro lado da parede, neste mesmo momentos muita poeira foi produzida com decorrência do deslocamento de pedra, Não se tratou exatamente de uma explosão mas sim de uma energização da pedra, de modo que não produziu-se demasiados ruídos. Fomos correndo em direção ao rombo que fora produzido e nos deparamos com um grande labirinto de selva. Era uma selva negra e espessa, os raios de lua penetravam em meio à poeira de granito, por alguns momentos ficamos admirando a paisagem que denotava uma floresta que ia até os confins da visão entre à claridade da noite. O ar que penetrava pela fissura era aromatizado, pelo odor de plantas e flores da floresta, o que me era agradável depois de tantos dias de quase asfixia no castelo.
Com pouco de esforço subimos e passamos através da abertura produzida, aquela natureza toda renovava-me o espírito, dando-me mais forças para continuar o plano de fuga. Aos poucos nossos olhos acostumaram-se à semi-escuridão, e ouvíamos ruídos de diferentes animais os quais não consegui distinguir. A luz da lua era suficientemente forte para que pudéssemos enxergar o caminho através da emaranhada selva. Porém uma forte neblina dificultava em muito o alcance de nossa visão que se limitava a poucos metros à frente, a pesar de ser uma neblina baixa, era bastante espessa. O ar era bastante fresco, mas estranhamente por vezes pareciam vir chumaços de ar quente, o que me causava desânimo, pois os pulmões não assimilavam tamanha densidade de ar quente, chegando a quase sufocar. Eu pensava que tinha um destino, e este era traçado por meu salvador, ao qual daria minha vida, era Hanickate a partir daquele momento meu mestre e mentor, uma espécie de ligação magistral havia entre meus fortes sentimentos e sua pessoa. Via-o como um senhor muito sábio, por seu descomunal poder transparecia uma jovial vivacidade em seus atos, não compreendia como o corpo de um senhor como ele agüentava tantos pesares, como estar trancafiado durante tanto tempo, e depois caminhar tantos quilômetros como fizemos naquela noite. Era uma plena admiração por sua pessoa.
Após muitas horas de caminhada o terreno começou a ficar pantanoso e lamacento de modo que nossas pernas afundavam até a altura dos joelhos, caminhávamos com grande dificuldade, agora a passos lentos e tortuosos, porém não desistimos de caminhar, desviando grandes folhas com as mãos, raízes e arbustos bastante densos impediam nossa jornada. Nossa força de vontade por momentos ficou debilitada, vencendo um lamaçal intransponível em estados de consciência normal.
Num dos momentos comecei a urrar de dor, minhas pernas pareciam estar dormentes ou algo parecidos, Hanickate entendeu que necessitávamos de um repouso, foi aí então que paramos por momentos.
Deitamos no pé de uma árvore, em meio a lama, num lugar onde a profundidade desta era menor. Um estranho silêncio inundou a selva, fiquei estatelado olhando uma árvore que encontrava-se pouco mais à frente. Derrepente uma flecha se incrustou na árvore com uma velocidade vertiginosa, por breves momentos pensei tratar-se de mais uma alucinação, mas quando percebi que Hanickate também viu-a fiquei terrificado com as possíveis proporções do fato.
- São índios. – Disse ele – Vamos rapidamente esconder-nos, pois veja você que creio eu ser esta uma flecha de batalha.
- Como?
- Esconda-se amigo. Ou morrerás dentro de pouco.
- Claro.
Logo ocultei-me atrás de uma grossa árvore colocando minhas dolorosas pernas inteiramente submersas naquele barro, eu estava inteiramente coberto pela neblina que ainda fortemente persistia na selva. Por muito tempo ficamos esperando que algo ocorresse em silêncio, achei que nada iria acontecer, porém quando começaram outras flechas esvoaçarem pelo ar percebi que estavam realmente perto. Logo tudo transformou-se em uma verdadeira chuva de flechas, assustei-me tentando entrar todavia mais na lama de forma inútil já que uma forte dor surgiu em meu ombro direito, rodopiei a cabeça, fiquei zonzo e meu ombro se aqueceu e sangrou muito. Corajosamente numa frustrada tentativa tentei arrancar a flecha de meu corpo, porém quanto mais tentava mais sentia uma penetrante dor e mais sangrava.
Depois de um determinado tempo começaram a vir os primeiros índios, que tinham suas faces azuis, pude ver no meio de todo aquele alvoroço e correria que portavam sandálias de couro e uma saia que descia até a altura dos joelhos, alguns tinham pinturas no peito, outros tinham colares com dentes de animais selvagens. Utilizavam gigantes arcos que iam de suas cabeças aos pés, corriam muito rápido, como se a lama não os incomodasse, e ao mesmo tempo puxavam poderosas flechas, atirando-as à frente. Eram muitos, corriam desesperada e freneticamente, com uma direção bem definida, não me viram e eu esforçava-me para me manter calado a pesar da incomensurável dor que sentia. Cerca de trezentos, que durante meia hora corriam uns atrás dos outros, eu e Hanickate esperamos até que o último se fosse para sairmos dos esconderijos.
Muitas flechas espalhadas e encravadas por todos os lados, achei aquilo um tremendo desperdício, não sabendo exatamente quê estratégia de guerra fora utilizada naquele momento, sem desviar muito meus pensamentos para este assunto decidi gritar por meu mestre:
- Hanickate!
- Fique tranqüilo meu discípulo, eles se foram
- Onde está você? Não vejo-o.
- Há vezes que a visão é menos necessária que a audição. – Proferiu em palavras misteriosas enquanto descia do topo de uma árvore muito alta.
- Chego a pensar que és uma criança ou jovem.
- A vivacidade da alma não têm idade Berengall.
- Por quê sempre fala em forma de frases proféticas?
- Está bem, vamos ser mais realistas Berengall: você deve vir comigo, pois do contrário perder-se-á neste mundo sangrento. Na dimensão em que estamos existem diversas etnias, e cada qual, como na terra, possui seus interesses particulares, sejam eles benignos ou malignos. Saímos do castelo de Himerk o senhor do universo, para cair na selva viva em que estamos, pois veja você meu condiscípulo que a vida é feita de momentos agradáveis e outros perversos, o que devemos é saber nos adaptar a cada tipo de momento a tirar para nosso próprio proveito as lições das experiências.
- Creio que esteja lhe entendendo mestre Hanickate – Disse eu com grande dificuldade por causa da dor provocada pela flecha.
- Pois veja meu filho que assim é a vida.
- Não entendo como sabe meu sobrenome.
- Não fales de assunto tão mesquinho, pois sei que és mais sábio que aparenta ser, os Etsorps escolhidos são sempre como um desconhecido universo.
- Mas é fato que estamos em um universo desconhecido.
- Veja então você, que todo o desconhecido existe, e pode ser mantido oculto como também ser explorado como quem explora uma selva ou um cadavérico mundo.
- Sim mestre – Disse eu com humildade – Não há duvida de que estamos explorando um mundo desconhecido aos humanos.
- Veja que como é este mundo físico são nossos mundos mentais, que tratam-se de verdadeiros universos culturais, sentimentais e mágicos e por isso poderosos e capazes. Foi assim que descobri minha energia interna, esta que posso utilizar de diversas maneiras, mas, creio que esteja me precipitando nas lições... – fazendo breve pausa para meditação logo voltou-se para min – Agora deixe-me ver este ombro.
Quando Hanickate pegou a flecha eu rugi de dor como um cavalo, ele simplesmente enfincou a flecha de modo que esta traspassasse por inteiro meu ombro, imensa foi a dor.
- Vejo que teve sorte por não estar envenenada, do contrario morreria em poucos minutos.
- Sabe quem são estes selvagens?
- São descendentes de uma antiga civilização comum.
- Conte-me algo por favor.
- Esta civilização – Prosseguiu ele enquanto enfaixava meu ferimento com algumas raízes extraídas da selva – provém de muito tempo derradeiro, viviam em pequenas aldeias comuns, porém houve o dia do ataque, em que Himerk em um desvairado ataque de fúria devastou tudo o que lá existia. Os poucos que fugiram formaram grupos de coletores-caçadores. São ao todo quatro tipos de tribo que descendem de uma mesma civilização, eu diria que ocorrera neste caso uma regressão cultural e científica, pois com tudo que ocorreu perderam cultura e história, este caso assustou-me, e até o âmago de minha essência tenho motivos justos para lutar contra este grande vilão da sociedade, veja que todos os que vivem nos planetas de nossa dimensão se submetem às falácias de Himerk já que este de algum modo controla até as mentes das sociedades diversas, deve ser uma espécie de lavagem cerebral de grandes grupos.
- Como dizia você – Falei eu lembrando-lhe das tribos formadas - são quantas tribos?
- Quatro ao todo, tratam-se especificadamente dos H-holets. Distinguem-se entre si através das cores que utilizam para pintar seus rostos. Cada tribo possui algumas características diferentes. Por exemplo: os H-holets azuis são os mais traiçoeiros e violentos, após um ataque de sua tribo fica no local uma carnificina total, são os mais descontrolados de todos.
- Tivemos muita sorte então?
- Sim, por pouco não nos vêem.
- E os outros três?
- Sim, os H-holets vermelhos conservaram um pouco de ciência, e acabaram criando melhores técnicas de produção agrícola. Já os H-holets verdes regressaram à um estado primitivo deplorável, de modo que vivem em cavernas. Os cinzas parecem haver conservado muito bem a história de seu povo, saiba você que o passado faz com que o presente tenha sentido coerente, creio que os cinzas sejam os mais conscientes de sua situação no mundo, os outros parecem viver de forma influenciada por Himerk.
- Azuis, vermelhos, verdes e cinzas – Comentei já mais aliviado da dor – Me parece uma desfragmentação cultural.
- Sim notável rapaz, um desequilíbrio atroz.
- Creio que muito viveu nestes confins de mundo, como se sente com isso?
- Uma grande parte de minha vida é aqui, há muita tristeza, mas antes de Himerk era tudo melhor.
- Antes?
- Sim, não haviam tantos problemas quando vim para cá.
- Pois que novidade é esta para min, pois sempre julguei serem estas umas terras infernais, já que somente tenho encontrado sofrimentos e desventuras.
- Tranqüilize-se Berengall, lhe contarei algo interessante: Estudei na universidade de Eisthok, com um grande sábio, o próprio Eisthok em pessoa me transmitia seus conhecimentos, ele é um mago muito imponente, certamente bastante misterioso em seu modo de ser, mas que me ensinou muito do que sei.
- Um mago dono de uma universidade?
- Sim exatamente, bastante audaz foi seu projeto, porém depois do ano da devastação tudo acabou-se.
- Quê foi o ano da devastação?
- Em que o senhor do universo se impôs em Glantaris, a terra sagrada. O planeta de Eisthok. Veja que são apenas cinco os planetas habitados por seres de estirpe inteligente em nossa dimensão: Shamtyn, Glantaris, Sgrinius, Twers e Goviu. São considerados planetas gêmeos porque suas translação é executada através de uma mesma órbita. No ano da devastação Himerk se apoderou de Sgrinius e Glantaris.
- Estamos em Sgrinius?
- Sim.
- Somente há inimigos?
- Não, nós e outros são considerados os transgressores da lei, e há comunidades que vivem fugindo das leis de Himerk.
- Que horror é isto – Comentei desalentado.
- Para nossa infelicidade, mas devemos ser fortes. Vamos, não há tempo a perder.

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