domingo, 26 de julho de 2009

Capítulo 11 – Ety: o cavaleiro honrado.

Capítulo 11 – Ety: o cavaleiro honrado.

Minhas pernas já estavam muito fatigadas, a caminhada havia se prolongado desde o castelo por muito tempo, talvez seis ou sete horas, e eu tinha muito sono também, já havia me acostumado à visão selvagem, aos estranhos sons de animais, parecia que já estava amanhecendo. Naquele planeta o sol era similar ao da terra, talvez pouco maior. Hanickate estava obstinado na idéia de que não poderíamos parar eu estava extremamente contrariado, já que meu físico não suportava tantas agruras, mas ele tinha sempre o argumento de que eu como discípulo e escolhido deveria me acostumar a determinadas situações bastante difíceis. Parecia já estar amanhecendo, pois formava-se uma luminosidade bastante fraca no céu, derrepente apareceu um faixo de luz que traspassou pelas grossas árvores da floresta, e se repetiu, assim por diante diversas vezes causando grande alarde por nossa parte. Hanickate não conseguiu segurar sua curiosidade e propôs que fôssemos ver o que era aquilo. Caminhamos em sua direção, os feixes de luz eram momentâneos, e ocorriam sem uma constância de tempo delineada, emergimos em uma grande clareira com chão de terra batida, em seu centro havia uma casa de madeira, e lá era possível avistar a luminosidade do sol nascente. Pois tamanha era a densidade da floresta que não nos deixava ver o nascer do sol. Logo vimos que a causa daquelas luzes inconstantes pela floresta eram reflexos do sol refletidos pela espada de um cavaleiro. O homem manejava a espada de modo que esta provocasse os faixos de luz, estava trajado com uma armadura, sua espada era grande, e parecia ser pesada, a armadura era dourada e muito bonita. Em sua mão esquerda um grande escudo retangular. Fazia manobras de diversos tipos simulando diferentes ataques. Em uma das árvores estava preso um corcel negro não selado, sua penugem reluzia. Por muito tempo ficamos observando, manejava a espada como eu nunca houvera visto em quaisquer filme de guerras antigas, algo realmente impressionante.
Num determinado momento, num ato súbito o cavaleiro voltou seu olhar exatamente para o ponto em que nos escondíamos, assustamo-nos pois correu em nossa direção com a espada em riste.
- Quem são vocês forasteiros – Gritou com impetuosidade ao se aproximar o suficientemente perto para sentir sua obstinação.
- Somos Etsorps – Disse Hanickate amenizando a situação perigosa – Direi à você algo que jamais iria crer amável cavaleiro, pois possuímos conosco um dos medalhões, estamos à caminho de um destino já traçado pelas águas do passado. Não temos inimigos, a não ser aqueles que sejam amigos do novo rei. O caminho certamente dirá por si só que é por difíceis e sinuosas sendas que será. A chegar às montanhas brancas iremos andar.
- Não tenhais medo, pois inimigos de Himerk são meus amigos, não entendo você estranho, pois têm um falar deveras enigmático. Devem a min conhecer, e por assim dizer tornarem-se cavaleiros como eu, tudo isso com respeito, dignidade, perícias e coragem. Vejo por seus olhares que estão pouco abatidos... Que vos aconteceu? De onde viesteis?
- Somos fugitivos da prisão de Himerk – Disse eu quase sem entender o que havia ele dito antes.
- Por quê queres que tornemo-nos cavaleiros homem? – Perguntou rispidamente Hanickate.
- As regras são minhas. – Respondeu em tom de insanidade mental o cavaleiro.
- Claro. – Disse eu tentando acalma-lo – Creio que você seja uma pessoa de suma cortesia pelo que vejo.
- Não se atenha a este tipo de detalhe, o assunto de primordial importância é o de vossas inclusões em nossos reinos já que estais infiltrados em nossos territórios sagrados, deveríeis agora respeitar as tradições.
- Sim – Respondeu Hanickate em tom de fingida aprovação, já que não conseguia disfarçar sua contrariedade por tais palavras.
Embainhando a espada e tirando a armadura, mostrando que era dotado de uma força extrema, por ser uma verdadeira montanha de músculos, fez alguns grunhidos de cansaço, portava um saiote de couro como o dos romanos da história antiga. Sentou-se em um pequeno toco de madeira que havia em frente daquela casa, convidando-nos amavelmente a sentar diante dele, e em palavras menos afetadas que as anteriores começou a falar:
- Sou cavaleiro integrante de um povoado que vive à poucas milhas deste lugar. Antes que surja o dia venho para estes recantos praticar meus treinamentos de guerra com muito ardor. Encontrei este pátio com esta casa abandonada, e como não havia quaisquer dono me apoderei deste terreno, juntamente com meu cavalo, o qual considero grande companheiro. Nesta clareira obtenho paz e sossego para fazer meus movimentos com total liberdade. Companheiros, não quero suplicar nada, pois se assim fosse não estaria agindo como cavaleiro, porém neste âmbito gostaria de concientizar-vos de que meu povoado está em grande perigo, pois neste momento ocorre o grande ataque dos Ebelos, que são uns verdadeiros ratos. Odeio-os e lutarei contra esta raça até que seja derramada a última gota de meu nobre sangue, e digo ainda mais: se vosotros tivésseis algo a favor destes devoradores inescrupulosos vos mataria agora mesmo. – Neste momento o cavaleiro cerrou os punhos e voltou-nos um furioso olhar.
- Calma homem de Deus – Disse Hanickate enquanto fazia um gesto ameno com as duas mãos – Sequer conhecemos estes terríveis homens de que fala...
- Pois então prossigo em meus falares. É isto que ocorre amigos, os Ebelos destroçam a tudo o que vêem, e ainda por cima possuem o dom de transformar tudo o que encontram pela frente em poderosas armas de ataque, são uns verdadeiros bárbaros. Isso faz com que me empenhe cada vez mais em um treino incansável, à procura do aprimoramento em busca da perfeição. Muitos guerreiros já morreram nesta pavorosa luta. Nossa nação conta com os dez últimos guerreiros de nosso povoado, dos quais faço parte. Honradamente meado nesta grande ordem de acontecimentos convoco-vos a fazer parte de nossa família e a lutar em busca da paz contra os Ebelos malvados e aterradores como somente eles conseguiriam ser. Quê dizeis de minhas palavras estranhos andarilhos?
- Aceitamos vossa honesta proposta – Disse Hanickate com certo orgulho, sem mostrar-se desta vez contrariado.
- Certamente será de grande apraz e vantagem esta grandiosa opção, que apenas requer que tornem-se cavalheiros de verdade com antecedência, o que creio segundo minhas conjunções que será feito o mais tardar em duas Tucaras.
- O quê diz você quando se refere à duas Tucaras? – Perguntei com o devido respeito para com aquele homem monstruosamente forte.
- Em Colectiano, que é a língua de meu povo significam 80 dias cada Tucara, portanto terão exatamente 160 dias para se formarem em nossas tradições.
- Não! – Gritei eu num súbito sentimento de revolta, com vontade de sair correndo dali no mesmo momento, a pesar de toda dor e cansaço – Não quero tornar-me um cavaleiro louco e sair perambulando a matar Ebelos que nem conheço. Apenas quero sair deste mundo letárgico, o qual comprovadamente sei não se tratar de um sonho, mas que nunca quis formar parte. Não entendo o por quê de querer nos contratar para estas façanhas.
- Não iluda-se – Proferiu Hanickate amainando-me - Sabe que nos encontramos em situação de extremo risco, morreríamos inevitavelmente se não encontrássemos este gentil cavaleiro que se nos depara em frente, apenas seja honesto consigo mesmo e veja qual crê ser a melhor solução para seus incertos divagares.
- Certamente seu colega está certo amigo – Contribuiu o cavaleiro – São profanas tuas palavras, ordeno-te que retire-as agora mesmo caso não queiras ir contra a lei dos justos.
- Perdoe-me senhor – Disse eu com medo e humildade – Não quis ofender a tua civilização, talvez tenha sido um lapso distorcido de minhas fantasias malignas.
- Certamente foi isso – Afirmou o cavaleiro – Tratamos aqui da inclusão de vossas pessoas em nossos territórios, o que é muito bom para nós, e igualmente para vocês amigos.
- De quê falas tu? – Perguntou Hanickate.
- Falo dos ganhos que hão de fazer parte do porvir – Disse ele dando um largo sorriso – Claro que há vantagens em se integrar ao cavalheirismo, temos nossas conquistas e tesouros entre eles adquiram as cobiçadas pérolas amarelas e as todavia mais requintadas cor de cobre cujo os poderes não podem ser mencionados. Haverá a concessão de pedidos dos intercessores vitoriosos ofertada por nosso rei Colat o Magnífico.
- Seguramente faremos parte dos atinos de vossa vida, em busca da honrada vitória e com os prazeres das recompensas citadas. Por isso vos agradecemos a bondade. – Obtemperou Hanickate.
- Meu nome é Ety e agradeço em duplicata vossas boas vontades. Haverá um batismo em que será olvidado seus nomes para que sejam fixados os verdadeiros nomes, concordam com a exigência inicial?
- Claro, concordamos perfeitamente – Disse tentando esquecer qual era minha procedência.
- Quais serão os procedimentos durante as duas Tucaras? – Perguntou Hanickate.
- Não sejas tolo homem! – Exclamou com veemência – Somente poderá saber o que irá ocorrer no justo momento, pois do contrário estaria mostrando-se exageradamente curioso, o que é um péssimo hábito por suposto. Devemos deixar que o destino encarregue-se de nossas questões.
Neste momento ficamos em um breve silêncio, logo de forma bastante cortês Ety, o cavaleiro, nos convidou a entrar na casa de madeira com telhado de palha, falou que havia feito uma pequena reforma no lugar, os móveis haviam sido comprado de segunda mão porém pareciam muito bem conservados. Um grande espelho enfeitava a sala, uma mesa redonda com toalha bordada, e um cômodo mais ao fundo, no que se dizia uma cozinha havia apenas uma pequenina mesa com cesto de frutos silvestres e um jarro de água. Ety ofereceu-nos comida e água fresca, fiquei extasiado com aquela refeição agradabilíssima ao paladar de alguém que por muitos dias ficara confinado à uma horrível cela.

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